quarta-feira, 27 de maio de 2009

Simplesmente.....um sopro no coração.

Aproximo-me da noite
o silêncio abre os seus panos escuros
e as coisas escorrem
por óleo frio e espesso

Esta deveria ser a hora
em que me recolheria
como um poente
no bater do teu peito
mas a solidão
entra pelos meus vidros
e nas suas enlutadas mãos
solto o meu delírio

É então que surges
com teus passos de menina
os teus sonhos arrumados
como duas tranças nas tuas costas
guiando-me por corredores infinitos
e regressando aos espelhos
onde a vida te encarou

Mas os ruídos da noite
trazem a sua esponja silenciosa
e sem luz e sem tinta
o meu sonho resigna

Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"

1 comentário:

Maggie disse...

Uma canção linda... Bons velhos tempos!
Um poema doce pela pena mágica de Mia Couto.Digamos que este poeta é para mim... irresistível! Toca fundo na alma...

Bjs

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